Bolsonaro diz ter mandado investigar preço da Coronavac feita pelo Butantan
O presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) voltou a questionar a eficácia da Coronavac ontem quinta-feira (22) e
disse que mandou investigar uma suposta diferença de preço entre o imunizante
contra Covid produzido na China, pela Sinovac, e o feito pelo Butantan, ligado
ao governo de São Paulo, de seu desafeto, João Doria (PSDB).
De acordo com Bolsonaro, o governo
recebeu documentos da "empresa que fabrica aí a Coronavac, a matriz lá que
fornece o IFA, é na China" oferecendo o imunizante a US$ 5, enquanto o
Butantan oferece a vacina a US$ 10.
O mandatário afirmou ter acionado a
CGU (Controladoria-Geral da União), o Ministério da Justiça e o TCU (Tribunal
de União).
"O que aconteceu com o
Butantan? E outra, o Butantan também foi oficiado por nós para que se explique
por que a matriz nos oferece a vacina pronta a US$ 5 e eles, Butantan, ao
receber o IFA da China, nos revende a US$ 10 a vacina", disse Bolsonaro em
entrevista à rádio Banda B, de Curitiba (PR).
"Pode ser que não haja nada de
errado nisso tudo, mas o Butantan nunca nos deu, nunca nos apresentou as
planilhas de preço, toda a cadeia, o custo final da vacina. Só diz que são US$
10. Então, temos agora, sim, uma questão para ser investigada. Pode não ser
nada? Pode. Mas, pelo que tudo indica no momento, é algo assustador que vem
acontecendo lá no Butantan", insistiu o presidente.
Bolsonaro disse que
"obviamente que interessa para nós, ao continuar usando a Coronavac no
Brasil, comprar diretamente da China pela metade do preço do que pagar o dobro
no Butantan", mas afirmou que "não estou acusando de corrupção, de
desvio, de nada".
Ao longo da entrevista, Bolsonaro
questionou eficácia do imunizante que garantiu o início da vacinação contra
Covid no Brasil, em janeiro.
"Sabemos dos problemas que a
vacina chinesa, Coronavac, vem ocasionando em alguns países, como Chile, por
exemplo, e aqui no Brasil também. Pessoas que tomaram duas doses e foram
infectados ou reinfectadas. Então, a eficácia da Coronavac está lá embaixo,
realmente", afirmou.
Bolsonaro disse ainda que "até
hoje a Coronavac não tem comprovação científica" e que os brasileiros não
querem tomar este imunizante.
"O povo chega lá, o pessoal
pergunta: 'qual a vacina tem?'. Se é Coronavac, a tendência é não
aceitar", disse Bolsonaro, antes de colocar em dúvida futuras compras do
imunizante.
"Não adianta a gente comprar
mais X milhões de doses da Coronavac se a população aqui não quiser
tomar."
Em entrevista ao UOL, o governador
de São Paulo chamou Bolsonaro de "bobão" e "negacionista".
"Desde março do ano passado,
quando tivemos a constatação do primeiro caso [de Covid-19], ele vem se
comportando como um bobo, como um negacionista, como alguém sem compaixão com
seu povo. O Brasil lamentavelmente é um péssimo exemplo para o mundo, 545 mil
mortes, e um presidente que defende cloroquina ao invés de defender
vacina", afirmou Doria ao portal.
Em nota, o governador paulista diz
que o presidente delirou na entrevista e, sem provas, fez falsas acusações
contra o Instituto Butantan.
"Bolsonaro tenta, com isso,
desviar as atenções das denúncias contra seu próprio governo, que recebeu
oferta de grupo empresarial para comprar a vacina por quase o triplo do valor
negociado entre o Ministério da Saúde e o Butantan", diz a nota.
Para o tucano, a afirmação do
presidente é uma falácia de quem já declarou que não compraria a Coronavac, mas
adquiriu 100 milhões de doses, das quais mais de 57 milhões já foram entregues
pelo Butantan.
"Bolsonaro demonstra, mais uma
vez, incoerência na sua fala e nos seus atos para tentar camuflar negociações
escusas para aquisição de vacinas com preço três vezes acima do praticado no
mercado", finaliza.
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