Com avanço da vacinação, turismo inicia retomada no Nordeste
A chuva fina que persistiu por toda
a semana enfim cessou na tarde de quinta-feira (15). Mas o frio de 25 graus
–glacial para padrões baianos– se une ao vento que vem do mar, gerando a
sensação de uma temperatura mais baixa.
Ainda
assim, a praia do Porto da Barra, a mais cobiçada da costa de Salvador, está
apinhada de gente na areia. No calçadão, mãe e filha caminhavam com braços
pintados com símbolos da banda Timbalada.
Dois irmãos de Juiz de Fora (MG) em
frente ao Farol da Barra contavam os dias para o fim de semana, quando
esticariam a viagem para a praia de Boipeba. A poucos metros, um casal de
Brasília se espremia em frente à tela do celular para tirar uma foto no pôr do
sol.
Depois de um ano perdido em 2020, o
turismo nos estados da região Nordeste começa a respirar e dar os primeiros
sinais de retomada em meio ao avanço da vacinação contra a Covid-19 e a
consequente diminuição do número de casos e óbitos em decorrência da doença.
Dados da Abih (Associação
Brasileira da Indústria de Hotéis) apontam para um incremento na ocupação de
leitos nos últimos meses. Em junho, a média foi de 43% em Fortaleza, 42% no
Recife, 41% em Natal e 36% em Salvador.
Os números ainda são tímidos, mas
estão sendo encarados pelo setor como um alento diante do cenário do mesmo
período do ano passado, quando a maioria dos hotéis da região estava de portas
fechadas.
A expectativa é de um cenário um
pouco melhor em julho, mês marcado pelas férias escolares. A projeção da Abih
para este mês é uma ocupação de 51% em Natal e de até 55% em Fortaleza.
“Com o andamento da vacinação a
gente entra novamente em um caminho de crescimento”, afirma o presidente da
associação no Ceará, Regis Medeiros.
Ele ressalta a recuperação lenta,
mas consistente. “É mês a mês. Já temos sinais de um julho com ocupação bem
melhor do que julho do ano passado. Teremos um agosto parecido com julho e um
setembro com números crescentes”, diz.
A retomada não é restrita ao
Nordeste: de acordo com o IBGE, o índice de volume de atividades turísticas no
Brasil apresentou expansão de 102% em maio, comparado ao mesmo mês em 2020.
Houve crescimento nas 12 unidades
da federação onde a pesquisa é realizada, com destaque para Bahia, Pernambuco e
Rio Grande do Sul.
O avanço gradual é impulsionado
pelo turismo de lazer, conforme explica Luciano Lopes, da Abih na Bahia. Não à
toa destinos como Porto Seguro e Praia do Forte estão entre os mais procurados
no estado.
“Uma das primeiras demandas após o
isolamento é o lazer. Por isso, há uma procura maior por resorts e os destinos
de praia, principalmente entre as pessoas que já foram vacinadas”, afirma
Lopes.
Foi o caso da professora Bruna
Silva, 27, e do enfermeiro Diangeles Chagas, 33, que vieram de Brasília para
passar cinco dias entre Salvador e Praia do Forte.
Ele já havia tomado as duas doses
da vacina para a Covid-19, ela tomou a primeira. Por isso, dizem ter se sentido
seguros para fazer uma viagem a lazer nas férias depois de um longo período de
isolamento.
“Finalmente nos sentimos seguros
para viajar e está sendo tranquilo. Seguimos tomando os cuidados necessários”,
afirma Chagas.
O movimento de turistas também
cresceu em Pernambuco, onde os hotéis das praias de Porto de Galinhas e dos
Carneiros já vislumbram os 70% de ocupação.
“Estamos com taxa de ocupação acima
de 70% em julho e ainda não estamos nem na metade do mês”, afirma Danilo
Oliveira Lima, vice-presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável
da Praia dos Carneiros.
Ele destaca que os finais de semana
estão lotados até dezembro, considerando o período de sexta a domingo. O
desafio é vender diárias para os dias de semana.
Em Pipa, principal destino
turístico do Rio Grande do Norte, a divulgação de festas privadas de fim de ano
já foi iniciada. Por lá, as atividades turísticas também estão voltando aos
poucos.
A empresária Ludmila Abreu, dona de
um dos maiores receptivos de passeios turísticos de Pipa, precisou demitir
metade dos funcionários no ano passado. Agora, voltou a contratar: “O volume
vem surpreendendo”, avalia.
Ela ainda não recuperou o que
perdeu no período sem atividades, mas aproveitou o tempo para rever processos,
fechar contratos terceirizados e avaliar quais serviços valia a pena manter.
Em Maragogi, um dos locais mais
procurados do litoral nordestino, em Alagoas, as piscinas naturais costumam ser
um bom termômetro para medir a intensidade da atividade turística no local.
Aos poucos, mesmo com o período
chuvoso, o movimento dos catamarãs, que levam turistas para paisagens
paradisíacas no meio do mar, tem aumentado. Assim como nos hotéis da região, as
tarifas praticadas ainda são mais baixas do que os valores normais.
Leonardo Silva, que ganha a vida
levando de buggy turistas para conhecer as paisagens mais bonitas das praias
alagoanas, diz que precisou trabalhar com vendas de roupas no ano passado.
“Agora, voltei. Ainda não é como
gostaríamos, mas, se a vacina funcionar mesmo, vou ter que colocar mais gente
para trabalhar para mim”, brinca.
Luciano Lopes, da Abih-BA, é
cauteloso sobre a velocidade da retomada. Ele diz acreditar que o setor de
turismo só atingirá os índices de antes da pandemia no segundo semestre de
2022. E destaca que apenas o avanço da vacinação irá impulsionar o fluxo de
turistas.
O retorno a um patamar pré-pandemia
dependerá também da retomada do turismo de negócios e dos grandes eventos
festivos.
O turismo de negócios, que costuma
ser um alento para os hoteleiros nos meses de baixa estação, ainda está
praticamente parado: convenções e seminários presenciais estão suspensos e
parte das empresas ainda está em home-office.
No entanto, algumas capitais, como
Recife e Fortaleza, já se preparam para receber as chamadas feiras de negócios.
De 20 a 31 de julho, a capital pernambucana vai sediar uma feira de franquias
com público reduzido.
“O momento é muito desafiador. A
gente organizou uma campanha para veicular no segundo semestre destacando a
questão do turismo seguro”, diz a secretária de Turismo do Recife, Cacau de Paula.
Os eventos festivos, contudo, ainda
estão suspensos em várias capitais. Mas prefeituras e governos estaduais já
começam a se preparar para uma retomada gradual nos próximos meses.
Em Salvador, a prefeitura prevê a
retomada de evento festivos com público reduzido a partir de agosto. Um
primeiro evento-teste foi marcado para 29 de julho, com público de 500 pessoas.
A realização de Réveillon e o
Carnaval, entretanto, ainda é uma incógnita.
“Países que tinham declarado a
extinção da máscara precisaram voltar atrás. Então, prefiro aguardar para
anunciar uma posição mais segura. É cedo para falar de Carnaval e de
Réveillon", disse o governador da Bahia, Rui Costa (PT).
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