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Maia critica ameaça de Bolsonaro sobre fundo eleitoral

Maia critica ameaça de Bolsonaro sobre fundo eleitoral

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou nesta quinta-feira (19) a sinalização do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de vetar o fundo eleitoral de R$ 2 bilhões aprovado nesta semana pelo Congresso. 

"É um direito do presidente [vetar o fundo eleitoral]. Ele mandou [a proposta com] o valor de R$ 2 bilhões. O Congresso aprovou o valor, ratificou a posição do presidente neste tema. Se ele vai vetar sua própria proposta, é uma decisão deles", afirmou. 
Maia disse que esse jogo de vetos do Executivo para desgastar o Legislativo junto à opinião pública gera insegurança e pode levar a um círculo de retaliação mútua prejudicial à sociedade.  "Ele veta o que ele quer, a gente vota a pauta da Câmara, a do Senado. Vão retaliar, o que posso fazer?", disse.
No Orçamento de 2020, há dois instrumentos para abastecer o caixa de partidos com recursos públicos: o fundo partidário, de aproximadamente R$ 1 bilhão (distribuído anualmente), e o fundo eleitoral, criado para financiar campanhas em ano de eleição.
Na prática, um eventual veto de Bolsonaro pode prejudicar partidos rivais e colocá-los em condições de igualdade com a Aliança pelo Brasil, legenda que pretende criar nos próximos meses.
Se o partido for viabilizado na Justiça Eleitoral de forma célere (um cenário, no entanto, ainda incerto), a Aliança poderá disputar a eleição municipal de 2020, mas sem recursos do fundo eleitoral e sem tempo de rádio e TV. Hoje, a distribuição dos fundos partidário e eleitoral (que financiam as legendas com verbas públicas) leva em conta os votos obtidos na última eleição para a Câmara. 
Pelas estimativas, caso o valor do fundo eleitoral aprovado pelo Congresso seja mantido, o PSL receberá R$ 203 milhões em 2020, e o PT, R$ 201 milhões.
Maia, questionado sobre se o veto ao fundo de R$ 2 bilhões seria uma maneira do presidente deixar o desgaste de sua aprovação com o Parlamento (já que aí caberia ao Congresso derrubar o veto, sendo que o valor aprovado foi negociado com o governo), disse que Câmara tem um arsenal para fazer acenos populares também. 
"Quer fazer um aceno popular, a Câmara tem um arsenal. Não é o que fizemos nos últimos anos. Se começar esse jogo de um querer vetar para deixar o desgaste para o outro, a gente vai gerar uma insegurança para a sociedade", disse. Depois, afirmou que pode gerar desgaste entre os dois Poderes.
"Se começar este jogo de a gente, em vez de priorizar nossa responsabilidade, priorizar a pressão de segmentos da sociedade, vamos gerar uma insegurança na relação entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo."
Ele afirmou, por exemplo, que a Câmara poderia passar a aprovar pautas que têm apelo popular e inclusive propostas de campanha de Bolsonaro, como a diminuição do preço do diesel, mas não têm previsão orçamentária, obrigando o presidente a vetá-las para não ferir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Assim, o desgaste seria do Executivo.
"O que parece é que ele está olhando para uma parte da sociedade que, com razão, tem críticas ao fundo eleitoral e fala para esta sociedade. Agora, imagina se o Parlamento começar também a querer falar para uma parte da sociedade: vamos fazer uma política do salário mínimo com 5% de aumento real todos os anos. Vamos ser aplaudidos por grande parte da sociedade brasileira, mas vamos obrigar o presidente da República a vetar este projeto porque ele não tem amparo no Orçamento público", disse. 
Maia questionou ainda o discurso de que aliados do governo não teriam interesse no fundo eleitoral. "Mas para que eles estão querendo brigar pelo PSL? Porque, se eles não querem dinheiro, para que eles queriam brigar pelo PSL? Então tem uma incoerência desses defensores do governo na rede social. Eles falam uma coisa, mas querem um partido pelo dinheiro, porque fora do dinheiro o que é que o PSL tem?", afirmou, em referência à briga de parte dos deputados do PSL, que quer deixar o partido mas levar consigo os mandatos e fundo. 
Sem justa causa, os parlamentares da ala bolsonarista do PSL que migrarem para a Aliança pelo Brasil perderiam o dinheiro do fundo.
Apesar das críticas, Maia afirmou que a relação do Executivo com o Congresso melhorou, em especial no segundo semestre, quando o presidente parou de "atacar o Parlamento". "A relação com a equipe econômica é boa desde o início do ano, e com o Planalto desde o segundo semestre", afirmou. 
O presidente da Câmara também defendeu um debate sobre financiamento eleitoral que inclua um teto para contribuições feitas por pessoas físicas para não provocar qualquer distorção. "Não pode ter um financiador financiando com R$ 10 milhões, R$ 20 milhões", afirmou. "A pessoa física também não pode usar seu patrimônio e distorcer o processo".

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