Lula solto e duplamente condenado
Lula começou o ano como o mais ilustre presidiário do paÃs e
terminou solto, mas duplamente condenado em segunda instância.
Em fevereiro, a juÃza Gabriela Hardt condenou o petista
a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sÃtio de Atibaia, por corrupção passiva
e lavagem de dinheiro.
Em abril, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça
confirmou a condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no
processo do triplex.
No entanto, diminuiu a pena e reduziu ainda
mais a multa do condenado.
Para a surpresa de ninguém, a decisão foi elogiada pelo
ministro Gilmar Mendes: “O STJ agiu como um tribunal deve agir”.
A decisão do STJ era meio caminho andado para Lula deixar a
cadeia.
Em junho, Gilmar propôs, então, a soltura imediata de
Lula. Por 3 votos a 2, a proposta do ministro foi derrotada na Segunda
Turma do Supremo.
Durante o perÃodo em que esteve preso neste ano, o corrupto
e lavador de dinheiro deixou a sede da PolÃcia Federal em Curitiba apenas em
uma ocasião: para ir ao velório do neto Arthur, em março.
Lula não teve a mesma autorização da Justiça para ir ao
funeral do irmão Genival Inácio da Silva, conhecido como Vavá, em janeiro.
A militância petista aproveitou-se do veto para repisar o
discurso de perseguição. Gleisi Hoffmann chegou até a convocar um
comÃcio pela soltura do condenado no cemitério onde ocorreu o enterro de
Vavá.
Tudo dentro da normalidade no mundo paralelo do PT.
Em agosto, a Vara de Execuções Penais da Justiça de São
Paulo determinou a transferência de Lula para o presÃdio de Tremembé.
A defesa recorreu e pediu a soltura do condenado —o que foi
negado pelo ministro Edson Fachin.
No mesmo dia, o prestimoso Dias Toffoli decidiu em
caráter de urgência submeter o recurso sobre a transferência ao plenário
do STF, enquanto ainda transcorria uma sessão.
Por 10 votos a 1, o Supremo suspendeu a transferência e
manteve Lula preso na sede da Superintendência da PF em Curitiba.
Em setembro, Lula preenchia os requisitos necessários
para ir para o regime semiaberto, pois havia atingido um sexto da pena.
Os procuradores Lava Jato, então, pediram a
progressão, o que levou Lula a escrever uma cartinha na qual se
recusava a “barganhar” seus direitos e sua liberdade.
Por trás do comportamento aparentemente estranho de Lula,
estava a certeza de que em breve o STF faria alguma manobra para anular as suas
condenações. O habeas corpus que pede a suspeição de Sergio Moro,
jogando no lixo o processo do triplex, por exemplo, é o que está mais adiantado
na Corte e pode ser julgado no ano que vem.
No dia 8 novembro, finalmente, o corrupto e lavador de
dinheiro foi solto, beneficiado pelo julgamento do STF que mudou outra vez
a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância. Tudo feito sob
medida.
No dia seguinte, Lula armou um circo em frente ao
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Em discurso, atacou Moro, Deltan Dallagnol,
a Globo e Jair Bolsonaro. Também incitou a militância a
seguir o exemplo dos protestos violentos do Chile, que terminaram com mais
de duas dezenas de mortes.
No ano em que Lula foi solto, a prisão após condenação em
segunda instância foi derrubada e os procuradores da Lava Jato foram vÃtimas de
uma das mais facinorosas campanhas de difamação e calúnia promovidas no Brasil,
o combate à corrupção retrocedeu. Mas o ano termina com algumas vitórias que
podem representar uma nova inflexão positiva.
O julgamento de Lula no TRF-4 no processo do sÃtio de
Atibaia, em novembro, foi uma dessas vitórias.
O tribunal foi implacável com o petista. Não apenas
confirmou por unanimidade a condenação de Lula, como aumentou a sua pena
de 12 e 11 meses para 17 anos, 1 mês e 10 dias. Os desembargadores do TRF-4
mostraram ao STF que não se intimidam com cara feia. Na decisão, ainda deram
lição aos ministros de BrasÃlia, ao enfatizar o absurdo que era inventar duas
categorias de réus — a dos delatados e a dos delatores –, com a
primeira tendo o direito de falar por último nas alegações finais dos
processos. A manobra tirou Aldemir Bendine da cadeia e serviu de
pretexto para que outros corruptos presos pedissem soltura. Ainda há juÃzes em
Porto Alegre.
Em dezembro, enquanto Lula passava férias na praia, de
chapéu panamá e ao lado da chiclete Janja, a Lava Jato desencadeou
a Operação Mapa da Mina, abrindo a temporada de caça a Lulinha e
a sua milagrosa Gamecorp. A PF chegou a pedir a prisão do filho de Lula,
ex-monitor de Jardim Zoológico cuja empresa recebeu, ao longo de mais de uma
década, 132 milhões pagos pela Telemar/Oi, beneficiada durante o governo
do pai. Os investigadores acreditam, inclusive, que o dinheiro para comprar o
sÃtio de Atibaia, em nome de um filho de Jacó Bittar, saiu da Gamecorp. A
juÃza Gabriela Hardt, contudo, aliviou a barra para o gênio da famÃlia
e negou o pedido. Sim, aquela juÃza acusada pelo PT de “perseguir” Lula.
Se na frente criminal, a mãozona do STF não pôde tudo, na
frente polÃtica, o ex-presidiário e duplamente condenado encontrou uma
realidade menos favorável do que ele imaginava: da mesma forma que a sua prisão
não causou convulsões sociais, a sua soltura não entusiasmou entre os
eleitores. E o seu discurso raivoso não mobilizou as massas, como gostam de
dizer os esquerdistas.
Pelo contrário, ele foi vaiado e chamado de “ladrão” em
Recife. Outros partidos de esquerda também torcem o nariz para o seu plano de
manter a hegemonia do PT. Diante desse quadro negativo, Lula se recolheu um
pouco na sua doce vida, agora ao lado da namorada, Janja — que, aparentemente,
fica mais grudada nele do que uma tornozeleira eletrônica. Só a claque
artÃstica segue fiel ao ex-presidiário duplamente condenado.
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