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Rejeitos de barragem não devem chegar a usina de Três Marias, diz o Serviço Geológico do Brasil


(O Globo)
Enquanto em Brumadinho (MG) a luta ainda é para encontrar sobreviventes, governo federal e Vale têm agora uma nova preocupação: impedir que a lama de rejeitos de minério atinja o Rio São Francisco. Símbolo da integração nacional, o rio está a 30 quilômetros da hidrelétrica de Retiro Baixo, que deve reter a maior parte da pluma (mistura de rejeito e água) vazada da barragem da Mina do Feijão.
Caso Retiro Baixo não dê conta de segurar toda a lama que saiu da barragem em Brumadinho, o material irá para o lago da hidrelétrica de Três Marias, o primeiro do Rio São Francisco, que passa por cinco estados. O diretor-financeiro da Vale, Luciano Siani, anunciou ontem a empresa vai construir uma cortina de contenção de rejeitos, uma espécie de dique, no Rio Paraobeba, na altura de em Pará de Minas, a cerca de 75 quilômetros de Brumadinho.
— Vamos construir essa membrana a partir de amanhã (hoje). Objetivo é reter esses colóides, que são partículas muito grossas (de minério), e permitir a continuidade da captação de água. Nosso objetivo é que não haja ruptura na captação de água nas cidades a juzantes (que seguem a correnteza) do Rio Paraopeba — disse o executivo.
Na mesma entrevista, a Vale anunciou que irá fazer uma doação emergencial de R$ 100 mil, de imediato, a cada família das vítimas fatais da tragédia; manterá a compensação financeira de recursos minerais para o município de Brumadinho; e usará uma equipe de psicólogos do Hospital Israelita Albert Einstein especializada em tratamento de vítimas de catástrofes atender a famílias dos atingidos.
O Rio Paraobeba é um dos principais afluentes do São Francisco. Por isso, a preocupação da lama da barragem de Brumadinho chegar a Três Marias. Ontem, dois relatórios elaborados por pesquisadores do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e da Agência Nacional de Águas (ANA) divergiram sobre a possibilidade da água com barro invadir o Velho Chico.
O primeiro boletim, divulgado pela manhã, previa que lama chegaria a Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro. Depois, à noite, o governo recuou, afirmando que a “expectativa é que todo o rejeito fique retido no reservatório” da usina da Retiro Baixo, onde chegará entre os dias 5 e 10 do próximo mês, “não alcançando o reservatório da Hidrelétrica de Três Marias”. A onda de lama percorre a região a uma velocidade de 1 km/h, segundo o governo.
O vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, Maciel Oliveira, disse que equipes técnicas monitoram a qualidade da água do rio. Municípios da região de Três Marias e órgãos de abastecimento de água, Ibama e Cemig (responsável pela hidrelétrica), preparam uma força-tarefa para acompanhar a situação no reservatório.
— Estamos nos preparando para receber a lama. Vamos montar uma sala de situação para colher as informações oficiais — disse Maciel. — Os municípios do entorno de Três Marias estão sendo mobilizados para traçar imediatamente uma estratégia de ação de como enfrentar essa situação — acrescentou.
Apesar da ANA e do CPRM garantirem que Retiro Baixo será capaz de conter a lama, outro órgão, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) — responsável pela fiscalização de hidrelétricas — enviou ofício à usina solicitando relatório sobre a capacidade do seu reservatório de suportar os rejeitos. A barragem de Retiro Baixo foi uma das 122 estruturas fiscalizadas in loco pela Aneel entre 2016 e 2018 “e está em boas condições”, segundo nota.
A hidrelétrica de Retiro Baixo tem potência instalada de 82 MW e está atualmente operando em cerca de 20 MW, para diminuir o nível de seu reservatório a fim de reter a lama. Ela vai continuar gerando até que seu reservatório atinja o nível operacional mínimo. O reservatório tem área de 22,58 km2, com profundidade média de 22 metros.

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